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A falta de informação e a consequente desunião de uma classe

12 dez 2013

Como biomédico formado em 2010 já experimentei algumas das habilitações disponíveis no mercado de trabalho que são reconhecidas e legais nos termos da lei. Já atuei em Diagnóstico por imagem, análises microbiológicas de água e alimentos, análises bromatológicas, análises clínicas, controle de qualidade e gerenciamento laboratorial.

Recentemente ingressei em um grupo dentro de determinada rede social chamado “Portal do biomédico no Facebook”. Nesse grupo se lê coisas de todos os tipos e pessoas em diferentes níveis dentro da profissão. É possível encontrar vagas para mestrado, vagas de emprego, vagas de estágio, há discussões com conteúdos altamente aproveitáveis, discussões que não valem a pena participar, há muito apoio, pessoas realistas, pessoas pessimistas e pessoas revoltadas.

A proposta desse grupo nada mais é do que um auxílio mútuo, todos ajudam todos. Claro que vai haver quem tenha mais sorte, quem tenha menos sorte, isso é normal. Muito tem se falado de baixos salários para a profissão, há relatos de salários inviáveis.

Recentemente esse assunto foi rebatido por uma pessoa do grupo, que mostrou vagas com salários muito acima do que muita gente ganha, os processos seletivos foram abertos e as vagas não foram ocupados.

Há quem diga que a profissão está saturada de profissionais, e isso é verdade em partes. A Biomedicina, segundo o conselho de minha região (CRBM1), possui 35 áreas de atuação. Que profissão tem tantas áreas de atuação assim? Eu sinceramente desconheço. A verdade é que algumas áreas estão sim saturadas e a mais famosa delas, análises clínicas, vem sendo altamente “atacada” por biomédicos e demais profissionais. E isso tem uma explicação lógica.

Os cursos de Biomedicina crescem exponencialmente a cada ano no Brasil, só que a maioria das faculdades oferece apenas uma ou, no máximo, duas habilitações. No meu caso saí da faculdade com duas habilitações e não tenho conhecimento de faculdades que formem biomédicos com mais do que duas. Das faculdades que oferecem duas habilitações uma é análises clínicas (mercado saturado, lembram?) e a outra varia de instituição para instituição. Já nas faculdades que oferecem apenas uma habilitação, em 90% dos casos essa habilitação se dá em análises clínicas, algo que a meu ver deveria começar a ser repensado.

Uma segunda, terceira e até mesmo quarta especialização depende totalmente do biomédico formado. Muita gente espera que o “trabalho ideal”, chegue de “forma fácil”, o que, convenhamos, dificilmente ocorrerá.

Então, ao invés de correr atrás de uma especialização diferenciada o profissional passa a reclamar e denegrir a própria profissão, e o pior, causa uma desunião que não vejo em qualquer outra área. Não se vê dentista, nutricionista, farmacêutico falando mal e/ou denegrindo a própria profissão.

Pela forte concorrência em determinadas habilitações se torna comum o salário baixar, há grande mão de obra, é natural que isso ocorra. Muitas vezes há uma “prostituição” por determinada vaga, se fulano vai trabalhar por X, para pegar a vaga dele trabalharei por Y. Essa é a forma de pensamento que se tornou comum.

O mesmo defeito de desunião de profissionais pode ser visto em laboratórios, sejam de pequeno ou grande porte. Ao invés de se unirem e unificar tabela de preços, atualizar honorários de acordo com a inflação, entre outros, permitindo que os clientes escolham aonde ir, já que os preços “seriam os mesmos”, os laboratórios “se matam” entre si, baixando cada vez mais os preços. Os clientes adoram, é claro. Porém, ao baixar o preço, a qualidade certamente acompanhará a queda. Já cheguei a ver clínicas fazerem promoção de Natal oferecendo de 30 % a 50% de desconto em exames laboratoriais. Ou seja, esqueça saúde e qualidade, vamos oferecer preço.

Enquanto houver essa desinformação quanto às áreas de atuação saturadas, desunião de colegas de profissão, profissionais denegrindo a própria profissão será difícil o crescimento e o reconhecimento de umas das mais belas profissões existentes hoje no mercado de trabalho.

Dr. Murilo Camano Murr é biomédico.

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